O que é o tempo para você? Para a ciência quântica, o tempo não existe. É uma ilusão. Se é uma ilusão, por que vivemos em função do fator tempo, submetidos a um calendário definido em anos, meses, semanas e dias com 24 horas?
O calendário gregoriano que nos rege foi convencionado pelo Papa Gregório XIII, em 1582, e é usado pela maioria dos países mundo afora. O termo “tempo” é uma invenção humana para organizar informações e atividades dentro dos paradigmas sobre o fator tempo/espaço que movem cada época (repare que época também é uma medida de tempo!). Se você pensar um pouco, verá que essas medidas de tempo, como as conhecemos, estão relacionadas com os movimentos de rotação e translação da terra, com as estações do ano e com os diversos calendários criados por povos distintos ao longo da história da humanidade. Então, se encontrássemos seres vivendo em Plutão, por exemplo, certamente a organização e percepção deles sobre o tempo seria diferente da nossa, já que um “ano” naquele planeta corresponde a 248 anos terrestres.
Para a teoria quântica, o tempo não é uma sucessão de acontecimentos formados por passado, presente e futuro e também não é o mesmo em todos os lugares, pois quanto mais próximo estamos do centro da Terra, onde é mais forte a gravidade, mais devagar o tempo passa. Essas teorias sobre tempo/espaço estão sendo discutidas em experimentos científicos que são como sinais do futuro do tempo e que refletirão, no campo prático, em novos conhecimentos e novas tecnologias, os quais tornarão tangíveis muitas das coisas que hoje só vemos nos filmes de ficção. Essas inovações vão chegar a nós aos poucos, dentro do movimento contínuo de evolução onde estamos inseridos. No senso comum, ainda percebemos o tempo de forma linear e cronológica – o tempo do deus grego Chronos, o tempo quantificado, que se pode medir e controlar pelos relógios, cronômetros e calendários.
Tudo que é bom dura pouco
Intuitivamente, todos nós experimentamos variações na percepção do tempo no dia a dia, todavia, não paramos para analisar o que elas nos dizem. A sabedoria popular dá indícios claros da ilusão do tempo quando nos ensina que “tudo que é bom dura pouco”. Por si só, as sensações diversas e individualizadas que vivenciamos em relação ao passar do tempo nos expõem a fragilidade de nossas certezas sobre o tema. Por que quando meditamos viajamos num tempo/espaço de energia que transcende nossa compreensão, como se a paz alcançada fosse uma constante? Por que a conversa que flui gostosamente com um amigo com quem só podemos estar por alguns instantes, parece passar voando? E por que o tempo de espera pelo resultado do vestibular ou o último mês da gravidez passa tão devagar?
Apesar dessas pistas sobre a não-linearidade do tempo, é nesse nível de entendimento do agora que as pessoas estão tentando se organizar e se relacionar com as mudanças, a inovação tecnológica, os sinais de futuro, as incertezas e a imprevisibilidade que se fazem presentes na sociedade pós-digital. Existe um luto antecipatório tomando conta das pessoas com o advento da pandemia e seus impactos, que nos tiraram da zona de conforto, do lugar conhecido, rumo a uma revisão de absolutamente tudo.
Esse cenário nos convida a uma reflexão sobre o que é realmente importante priorizar em nossas vidas e a compreender o que está a acontecer no foro íntimo, perante todas as mudanças disruptivas e rápidas que experimentamos e que continuarão a acontecer. No paradigma que rege o senso comum sobre o tempo, as pessoas estão exauridas em forças, com dificuldades para tomar decisões, perdidas em meio a uma quantidade enorme de ofertas tecnológicas, lives, livros, técnicas, canais, cursos e necessidades de requalificação. O mais difícil tem sido abraçar a mudança e transformá-la em oportunidade, aceitando que os velhos paradigmas não servem mais. Desaprender, para reaprender a aprender continuamente é um desafio que impacta a todos e exige um confronto sincero de cada um com suas crenças, valores e visões de mundo.
Tomada de consciência, Kairós e espírito shoshin
Falar de gestão do tempo na atualidade passa necessariamente por tomada de consciência e por muita coragem de se reinventar. A rotina estressante e frenética, a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional e o medo da impermanência e imprevisibilidade que caracterizam os tempo atuais são fatores que, por um lado, estão nos adoecendo, mas, por outro, nos impulsionam a encarar as crenças, rotinas e paradigmas que deveremos substituir para nos adequar ao novo e alcançar outro patamar de equilíbrio.
Isso nos remete ao tempo do deus grego Kairós, filho de Zeus. Na mitologia, Kairós representa o momento certo, o tempo oportuno, de qualidade. Aplicado ao nosso contexto, ele significa que podemos qualificar o tempo e nossas percepções sobre ele quando o colocamos a serviço das coisas importantes e construtivas para nós e para a coletividade. Para tal, é preciso experimentar jeitos novos de fazer as coisas, praticar e praticar novos comportamentos e pensamentos até que se torne natural lidarmos com as mudanças, nos adaptar rapidamente e aprender continuamente com elas. E, lembre-se: só temos o agora para fazer escolhas e renúncias com foco no que nos impulsiona ao futuro que almejamos.
A Big Data, as ferramentas, as inovações tecnológicas, a automação, a robotização e as novas metodologias ágeis com certeza são aliadas para otimizar a gestão do tempo. Mas, por si, não fazem milagres se não houver mudanças de hábitos e um novo olhar sobre a maneira que fazemos as coisas. Por isso, uma dica importante é que você esteja aberto para o novo e para aprender sempre, continuamente, como preconiza a filosofia longlife learning de educação continuada.
O termo Shoshin, um dos pilares do zen-budismo japonês, e que quer dizer “mente de principiante”, nos inspira a estarmos sempre prontos para aprender, curiosos como as crianças são, abertos à mudança e à experimentação. Ele resgata a humildade de aceitarmos que somos sempre uma versão beta, ou seja, nunca estamos prontos, o que nos remete à máxima Socrática ”Só sei que nada sei”.
O Método Diamond de gestão do tempo, que desenvolvi em parceria com a B2HR – Inteligência em Gestão de Pessoas, apresenta essas premissas e confronta a ideia de que existe uma solução mágica, vinda de fora, para melhorar a gestão do fator tempo, quando, a nosso ver, toda transformação precisa começar no eu, no indivíduo, pelo autoconhecimento. Só depois que decidimos mudar é que conseguimos atrelar a nossa jornada de transformação às tecnologias que nos ajudarão a concretizar nossos objetivos.
Ser humano. Ser criativo. Reencontrar a nossa criança.
As máquinas vão assumir as funções rotineiras, mecânicas e repetitivas no mundo. Elas vão pensar e aprender com os dados e comportamentos humanos, nos ajudando a tomar decisões mais assertivas, e isso já é uma realidade. Os algoritmos e as máquinas vão avançar muito nos próximos anos, mas não poderão ser humanas! Eu aprendi isso com o professor de criatividade e fundador da Keep Learning School, Murilo Gun. Para ele, “em um mundo de dados, o diferencial é ser mais humano“. Por isso, as habilidades do profissional dessa era pós-digital focam mais no que é intrinsecamente humano, não substituível pelas máquinas. Segundo o futurista brasileiro, a criatividade é a inteligência mais importante a ser desenvolvida pois é a base das demais.
Como vimos, o tempo é mais leve e prazeroso quando estamos fazendo algo bom, que nos eleva, que têm significado e sentido para nós. Ficaremos menos estressados com as rédeas de Chronos em nossas vidas se pudermos ressignificar o que fazemos e mudar nossos padrões mentais, assumindo comportamentos e pensamentos mais producentes e positivos. E como pré-requisito dessa mudança, está a reconexão com nossa sábia criança interior que, pela ausência de crenças, bloqueios e “nãos”, está sempre ávida e curiosa por aprender, sentir e experimentar novidades. Assumir as rédeas do tempo começa com a expansão da nossa consciência!