No baú mágico do quarto de brinquedos, dentro da caixinha lacrada dos segredos, está a alma da criança, que dorme e sonha. E enquanto sua alma imaculada, livre, volita pelos campos, matas, céus, mares e planetas, o corpo e o coração da criança padecem, algemados à solidão mundana.
Um fio dourado e resistente conecta a criança e seu coração à alma iluminada. A seiva divina percorre células humanas e etéreas, implodindo em plenitude, paz e integridade. Nessas horas de conexão, a criança navega no dorso de sua alma livre, e sente a brisa, as cores, os cheiros dos lugares virgens, das cachoeiras cristalinas, dos picos das montanhas, das galáxias infinitas do universo.
Tudo é amor, ela é amor, e o amor é o verso e o reverso!
Mas a alma não pode ser algemada, nem o coração da criança está pronto para ser livre. A alma sábia devolve a criança ao leito do aprendizado, lhe abençoa com um beijo e lhe concede a dádiva do esquecimento, para que ela cumpra seu destino, firme seus passos e floresça.
O fio dourado tilinta de luz e emana os fluídos desse amor incompreensível à mente humana. A criança apodera-se deste amor e segue em frente, inspirada, em busca da essência de sua atual jornada. A alma, paciente, espera pelo tempo certo, livre, dentro da caixinha dos segredos, no interior do quarto de brinquedos.
Cris Kozovits
